25 / 04 / 19

Troca de experiências marca o evento “O varejo do futuro”

Realizado pela Fecomércio em parceria com o Sebrae, encontro reuniu empreendedores alagoanos

Se existe  uma coisa que deve ficar na mente do empreendedor ou daquele que pretende se tornar um é: não se deve criar uma empresa pensando apenas em ganhar dinheiro. Esse foi um dos ensinamentos que os participantes do evento O varejo do futuro receberam, ontem (24), com os casos de sucesso alagoanos Miguel Teixeira, do Açaí Concept, e Fernando Peron, do Boteco Lugar Nenhum, em evento promovido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Alagoas (Fecomércio AL), em parceria com o Sebrae Alagoas, no Teatro Gustavo Leite.

A programação da noite trouxe, também, a palestra “O Comércio nunca mais será o mesmo”, com Fred Rocha, especialista em varejo. Com o apoio do Sindicato do Comércio Varejista de Arapiraca (Sindilojas Arapiraca), hoje, dia 26, é a vez de Arapiraca receber o evento às 19h, no Levinos Hall.

 

Casos de Sucesso

Há cinco anos surgia uma das maiores franquias do Nordeste, a Açaí Concept. O que começou com uma proposta inovadora na comercialização de açaí, deu origem ao Grupo Concept Franchising e atualmente agrega 11 empresas. A Açaí Concept tem mais de 250 lojas espalhadas pelo mundo e é a quarta maior franquia do Nordeste, de acordo com a Associação Brasileira de Franquias (são 236 lojas na região), e agora foca em expandir para o Sudeste.

Falando um pouco dessa experiência, o empresário Miguel Teixeira começou dizendo que é preciso ter paixão. “Se vai criar uma empresa só pensando no dinheiro ou em ficar rico, fica mais difícil. É preciso realmente ser apaixonado pelo que se faz. Ter um plano, colocar o sonho no papel e executar”, falou.

O empresário reforçou a importância em valorizar as pessoas, porque sozinho ninguém constrói nada. E isso é dito com a bagagem de uma rede que gera 1.500 postos de trabalho direta e indiretamente. Um dos conselhos para quem quer empreender é ter um projeto que se possa executar. “Custa tanto pensar pequeno, quanto pensar grande; é o mesmo esforço. Então é melhor pensar grande, sonhar com altos voos, criar sua marca já pensando que ela será uma marca que vai estar no mundo todo”, falou, acrescentando que a marca Açaí Concept foi idealizada nesse contexto.

Ter boas parcerias; ofertar um produto inovador e de qualidade, pois quando o produto é bom o preço passa a ser secundário; e ter persistência foram outros conselhos do empresário. “Ao longo da minha vida eu já quebrei duas vezes. Já tive situações que não deram tão certo. Então eu acho que quem quer sonhar em empreender tem que realmente ter essa coragem de estar preparado para o insucesso, estar preparado para trabalhar muito”, disse, reforçando que saber ouvir as pessoas é fundamental. “Todos têm algo a agregar. Sem a humildade para entender as pessoas, aprender a ouvir o cliente, escutar o franqueado, falar com os parceiros, nada disso funciona”.

Também com uma trajetória no empreendedorismo que teve alguns fracassos no caminho, o empresário Fernando Peron, um dos fundadores do Boteco Lugar Nenhum, disse que teve medo de abrir seu próprio bar e restaurante. Isso porque Peron trabalhou no Senac Alagoas ensinando as pessoas a lidarem com seus negócios e pensava: “Se eu abrir o meu bar, o meu restaurante e ele não der certo, qual a moral que eu tenho para ensinar alguém?”, afirmou. Até que foi convencido a criar o bar.

Desde o início a proposta seria criar um lugar divertido sob o irreverente nome Lugar Nenhum. E foi uma das brincadeiras propostas pelo empreendimento – uma placa localizada num fundo do vaso sanitário – que viralizou e tornou o local conhecido. “Foi o primeiro viral. Uma menina foi ao banheiro, tirou a foto e mandou para a fanpage Miga Bêbada. No dia seguinte, simplesmente eu acordo e minha rede social bombou do nada. Na época a gente tinha um ano e cerca de 4 mil seguidores. Do nada eu estava com 9 mil. Um monte de gente marcando o boteco em vários lugares e a gente começou a sair em tudo quanto é site no Brasil”, relatou. A publicação alcançou 4,2 milhões de pessoas. Segundo o empresário, foi nesse momento que ‘virou a chave’ e ele percebeu o que era preciso fazer: tornar o bar mais legal e aproximá-lo das pessoas. “E foi aí que eu comecei a ter problema, porque eu tinha a cabeça de justamente seguir essa linha e os meus antigos sócios, não”, falou. Com o fim da sociedade, Peron levou o projeto do boteco para um novo local há sete meses e, com esse conceito mais descontraído, disse que fez uma grande diferença no negócio.

A empresa tem três pilares de negócio: sorrir, satisfazer e lembrar. No sorrir, o uso das redes sociais inclui memes. A ideia é fazer o cliente se divertir e colocar a marca. “Uma das primeiras mudanças é que a gente começou a colocar o bar em primeira pessoa. Hoje o boteco se trata como uma pessoa e isso mudou totalmente o nosso negócio. Nós conversamos com pessoas, damos conselhos para clientes. A ideia da gente é que o bar tem vida própria, é uma pessoa e vai se interagir com as pessoas assim”, observou.

A parte de satisfazer entra na qualidade da prestação de serviços, na preocupação com os detalhes. “Tudo o que você vê no boteco foi pensado. Nada ali foi colocado por sorte”, pontuou. Já o lembrar fica por conta da memória afetiva que o bar cria com o cliente. “Nós temos um sino que toca três vezes por noite e isso funciona muito, porque as pessoas vão ouvir o sino e lembrar do bar. Os meus dois banheiros têm cheiro exclusivos próprios, também reativa a memória. A gente tem vários pontos que faz com que as pessoas lembrem do que está fazendo ali, porque não é só a questão da experiência, pois se for para comer e beber tem milhões de lugares que oferecem isso”, observou.

Como conseguiu criar um produto rentável com uma margem boa de retorno para os padrões dos bares, a proposta do Boteco Lugar Nenhum está sendo modelada para virar franquia.

Palestra

O especialista em varejo, Fred Rocha, disse que, apesar das pessoas falarem a palavra varejo com constância, não sabem o verdadeiro significado. “Varejo é muito mais do que uma loja na rua vendendo produtos. Varejo é tudo aquilo que a gente comercializa para o consumidor final usar, seja um produto ou um serviço”, explicou.

De acordo com ele, tem pouco tempo que as pessoas começaram a estudar negócios e que não cabe mais o empresário abrir seu estabelecimento pela manhã e esperar o consumidor chegar. “Nós estamos vivendo uma revolução. O que na verdade o mercado chama de crise, nada mais é do que uma grande mudança. Até pouco tempo os negócios subiam e desciam de acordo com a economia”, disse ao falar que se antes o cliente saía em busca do produto, hoje essa postura vem mudando e é preciso aprender a vender a esse novo consumidor.

A sociedade passou por mudanças de valores e isto mudou o perfil do consumidor. Aprender a investir no intangível é, segundo Rocha, o maior desafio do empresário atualmente, que precisa readequar os negócios para o futuro a partir do entendimento do que se passa na cabeça do consumidor. Na readequação, alguns passos: estabelecer um propósito; investir em pessoas; trazer inovação; fazer usar de forma inteligente a tecnologia; e investir em conhecimento.

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